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Casos de intoxicação por metanol e o papel do farmacêutico na linha de frente

Casos de intoxicação por metanol e o papel do farmacêutico na linha de frente

​Prezados colegas farmacêuticos,


​Nos últimos dias, a saúde pública brasileira voltou sua atenção para um grave problema: o aumento de casos de intoxicação e mortes associadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, com destaque no estado de São Paulo. Como profissionais da saúde na linha de frente, nosso papel na orientação da população e na identificação de potenciais vítimas é imprescindível.
​Este informe técnico-didático visa consolidar as informações sobre o tema, capacitando-nos a agir de forma rápida e eficaz.

Como o metanol contamina as bebidas?

É preciso entender que o metanol pode ter duas origens em bebidas alcoólicas:

Origem natural: como aponta o Conselho Federal de Química (CFQ), o metanol pode ser formado naturalmente em pequenas quantidades durante o processo de fermentação de frutas ricas em pectina (como uvas, maçãs e ameixas). Enzimas degradam a pectina, liberando metanol. Em processos controlados e industriais, essa concentração é mantida em níveis seguros e não representa risco.

Adulteração criminosa: esta é a causa dos surtos de intoxicação. O grande risco reside na adulteração intencional e fraudulenta. O metanol, por ser um álcool mais barato e com sabor e odor semelhantes ao etanol, é adicionado a bebidas de fabricação irregular ou de baixa qualidade para aumentar o teor alcoólico aparente. Essa prática criminosa transforma a bebida em um veneno potente.

Por que o metanol é tão perigoso?

O metanol por si só possui uma toxicidade relativamente baixa. O perigo real reside em seus metabólitos. No organismo, o metanol é metabolizado no fígado pela mesma via do etanol:

A enzima álcool desidrogenase (ADH) converte o metanol em formaldeído.
​Em seguida, a enzima aldeído desidrogenase (ALDH) converte o formaldeído em ácido fórmico.
​É o ácido fórmico o principal responsável pela toxicidade sistêmica. Ele inibe a enzima citocromo oxidase na cadeia respiratória mitocondrial, bloqueando a produção de ATP e causando hipóxia celular (morte celular por falta de oxigênio).

Além disso, seu acúmulo leva a uma severa acidose metabólica.
​Os órgãos mais sensíveis a essa hipóxia celular são o nervo óptico e o sistema nervoso central (SNC), o que explica os sintomas característicos da intoxicação.

Sinais e sintomas

A intoxicação por metanol é uma emergência médica. Os sintomas podem demorar de 12 a 24 horas para surgir, e o farmacêutico deve estar atento a pacientes que relatem o seguinte quadro clínico após o consumo de bebidas de procedência duvidosa:

👁️‍🗨️Visão turva ou embaçada (sintoma clássico, relacionado ao dano no nervo óptico)
🤯​Cefaleia intensa
​🤢Náuseas e vômitos
​😖Dor abdominal forte
​😵Rebaixamento do nível de consciência, confusão mental e tontura

Como destacam os alertas oficiais do Ministério da Saúde, não existe quantidade segura para o consumo de metanol. Mesmo pequenas doses podem ser extremamente prejudiciais e potencialmente letais.

O papel do farmacêutico na drogaria

Na farmácia comunitária, nossa atuação se divide em duas frentes:


​1. Aconselhamento e prevenção: devemos orientar ativamente nossos pacientes e clientes sobre como identificar bebidas potencialmente adulteradas.
Preço: desconfiar de valores significativamente abaixo do mercado.
Embalagem: observar lacres tortos ou violados, rótulos de baixa qualidade, erros grosseiros de impressão e informações inconsistentes no rótulo.
Odor: embora o metanol puro seja quase inodoro, formulações adulteradas podem conter outros solventes, conferindo um odor químico “diferente”, semelhante a solvente. Contudo, este é um indicador pouco confiável para o público leigo.


​2. Atuação clínica e encaminhamento
Ao atender um paciente com sintomas compatíveis (principalmente cefaleia e distúrbios visuais) e histórico de ingestão de bebida alcoólica suspeita, a conduta é única: encaminhar imediatamente para um serviço médico de emergência (UPA ou hospital).

NÃO INDIQUE ANALGÉSICOS OU ANTIEMÉTICOS PARA TRATAMENTO SINTOMÁTICO. Isso pode mascarar a gravidade do quadro e atrasar o diagnóstico e o tratamento, que são tempo-dependentes. A suspeita forte de intoxicação por metanol necessita de intervenção médica imediata.

O antídoto e as ações das autoridades de saúde

O tratamento hospitalar envolve a correção da acidose metabólica e o uso de antídotos específicos.


Fomepizol: é o antídoto de eleição. Atua como um potente inibidor competitivo da enzima álcool desidrogenase (ADH). Ao bloquear a ADH, o fomepizol impede a conversão do metanol em formaldeído e ácido fórmico, permitindo que o metanol não metabolizado seja excretado de forma segura pelo organismo. Conforme divulgado pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde, o Fomepizol não possui registro no Brasil, o que levou à publicação de um Edital de Chamamento Internacional (17/2025) para importação emergencial e à solicitação de doações à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).


Etanol: na ausência do Fomepizol, o etanol (álcool etílico grau farmacêutico) pode ser utilizado como antídoto. Ele também atua por inibição competitiva, pois a ADH possui uma afinidade muito maior pelo etanol do que pelo metanol. A administração controlada de etanol em ambiente hospitalar “ocupa” a enzima, reduzindo a metabolização do metanol. O Ministério da Saúde anunciou a existência de estoques de ampolas de etanol em hospitais universitários para essa finalidade.

A mobilização da Anvisa e do Ministério da Saúde para a compra emergencial e instalação de uma Sala de Situação demonstra a seriedade do cenário atual.

​Colegas, manter-se informado e preparado é a nossa maior ferramenta. A intoxicação por metanol é grave, mas com orientação correta e ação rápida, podemos ajudar a salvar vidas.

Escrito por Profa. Larissa Alana, farmacêutica e professora da Inspifar Pós-Graduação.

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O Autor

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