Quem morre enquanto o farmacêutico limpa a prateleira?
Por Larissa Alana, Docente do Curso de Pós-Graduação da Inspifar
Setembro chega e, com ele, os holofotes se voltam para uma data importante em nosso calendário: 17 de setembro, o Dia Mundial da Segurança do Paciente. Em congressos, hospitais e universidades, a semana inteira é dedicada a um debate nobre e urgente: protocolos avançados, tecnologia, comunicação efetiva entre equipes e metas globais para a redução de danos.
Uma pauta imprescindível. Mas, precisamos fazer a pergunta incômoda, aquela que ecoa no silêncio do fim do expediente: enquanto o mundo debate a segurança do paciente, onde, de fato, está o farmacêutico da farmácia comunitária?
Ele está lá, fisicamente presente. Porém, sua atenção, seu conhecimento técnico e seu tempo estão sendo verdadeiramente aplicados na segurança de alguém?
Ou ele está com um pano na mão, limpando a poeira da prateleira de dermocosméticos? Talvez esteja cobrindo o caixa na hora do pico, ouvindo o bipe incessante dos códigos de barras em vez de ouvir as dúvidas de um paciente. Ou, quem sabe, esteja agachado no depósito, com uma prancheta na mão, fazendo o inventário da perfumaria, conferindo a validade de produtos que em nada se relacionam com a farmacoterapia complexa que ele passou cinco anos estudando.
E, enquanto o seu tempo e conhecimento são sequestrados por essas tarefas, a verdadeira insegurança acontece a poucos metros dali. No balcão, um idoso, confuso com sua sacola cheia de medicamentos, compra por conta própria um anti-inflamatório que pode causar uma hemorragia fatal pela interação com seu anticoagulante. Uma mãe recebe uma orientação apressada sobre a dose do antibiótico do filho, porque a fila do caixa precisa andar.

A morte por farmacoterapia inadequada não é um risco abstrato; ela é a consequência direta de um sistema que empurra seu especialista para o desvio de função. É o resultado de um modelo de negócio que valoriza mais a organização de uma gôndola do que a análise de uma prescrição.
Esta é a ferida aberta e a hipocrisia silenciosa da nossa profissão na linha de frente. O sistema nos cobra a responsabilidade técnica sobre uma vida, mas nos entrega a rotina de um gerente de varejo. Estudamos farmacologia, interações medicamentosas e fisiopatologia para sermos a última barreira contra o erro. Mas, que barreira é essa, se estamos ocupados demais contando caixas?
Portanto, na Semana Mundial da Segurança do Paciente, a nossa reflexão mais honesta talvez não seja compartilhar estatísticas globais, mas olhar para a nossa própria realidade. A segurança do paciente, para nós, começa com uma luta diária e exaustiva por nosso espaço de atuação.
Ela começa quando o farmacêutico pode, finalmente, largar a planilha de inventário e se posicionar onde ele é verdadeiramente imprescindível: ao lado do paciente.
Qualquer coisa diferente disso não é apenas um desvio de função. É um desvio de propósito.
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Respostas de 3
O que acabei de ler é o meu grito de socorro que ninguém ouviu , é o motivo da minha angústia, da minha dor. Do meu medo de voltar a trabalhar em Drogarias. Isso disse tudo o que sempre tentei falar aos meus colegas, mas eles estavam presos a esse sistema medíocre. Estudamos para salvar vidas e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Parabéns Larissa por este texto
Que fala muito sobre a nossa rotina diária nas farmácias.
É exatamente isso e o pior que essa realidade se repete pelos caminhos que passei na distribuição, na urgência e emergência de um cais.
Existem muitos fatores que colaboram com isso, na minha opinião um dos principais foi o fato do próprio farmacêutico ter aceitado esse cargo de farmacêutico gerente, na ancia de receber um pouco mais pois como sabemos, o nosso piso é o nosso teto.
Ajudamos os empresários e ganhamos um problema com isso. E de quebra acabamos com um emprego dentro da farmácia (gerente).