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Você não é farmacêutica, é “só a moça da farmácia”: uma conversa honesta sobre nossa desvalorização

Você não é farmacêutica, é “só a moça da farmácia”: uma conversa honesta sobre nossa desvalorização

Abra o jogo: quantas vezes, nesta semana, você sentiu que os cinco anos (ou mais) de estudo, as noites em claro debruçada sobre livros de farmacologia, a responsabilidade que carrega em seu carimbo… tudo isso foi reduzido a um simples “me vê uma caixinha de…”?

Se a sua resposta foi “várias vezes”, bem-vindo ao clube. Um clube que ninguém quer fazer parte, mas que a cada dia ganha mais sócios.

Esqueça o discurso corporativo, a linguagem polida e os clichês sobre nossa “missão”. Hoje, o papo é reto, de colega para colega. É um desabafo, uma tentativa de colocar em palavras a angústia que borbulha nos grupos de WhatsApp, nos corredores das drogarias e no silêncio do laboratório no fim de um turno exaustivo.

Por que, afinal, somos tão desvalorizados?

A síndrome do “entregador de caixa” de jaleco

A ironia chega a ser cruel. Para a indústria farmacêutica, somos “Doutores”, peças-chave, o elo final e decisivo com o paciente. Somos convidados para jantares, recebemos visitas de representantes, somos a ponte para o lucro. Nos eventos, somos os protagonistas da saúde.

Mas basta atravessar a porta da drogaria para a realidade nos dar um soco no estômago. Para muitos clientes, somos invisíveis. Uma figura obrigatória, uma formalidade legal. Eles pedem opinião ao balconista, tiram dúvidas sobre doses com o vizinho, mas para nós, a pergunta é quase sempre a mesma: “Onde fica o protetor solar?”.

Vivemos uma esquizofrenia profissional. Somos tratados como cientistas por quem quer vender e como meros funcionários de balcão por quem precisa de cuidado. E nesse meio-campo, nossa identidade se esfarela. Um farmacêutico em um fórum online resumiu perfeitamente: “Eu me sinto uma peça decorativa cara que o dono da farmácia é obrigado a ter”.

O ciclo do esgotamento: 6×1 para pagar os boletos

Vamos falar de dinheiro? Ou da falta dele? A conta não fecha. A responsabilidade é gigante, mas a recompensa financeira, muitas vezes, é uma piada. Vemos colegas aceitando propostas aviltantes por puro desespero, por medo do desemprego. E a cada “sim” para um salário baixo, é a nossa profissão inteira que se desvaloriza um pouco mais.

A escala de trabalho 6×1, comum em tantas redes, virou um símbolo do nosso esgotamento. É a vida pessoal sendo engolida pela profissional. É o cansaço mental que se acumula a ponto de, como muitos relatam, a terapia se tornar um item da cesta básica. “Estudei tanto para questionar se a vida de formado era só isso? Entregar meu diploma para um sistema que me espreme até a última gota?”, desabafou uma colega em uma rede social.

E o pior é a sensação de ser facilmente substituível. A alta rotatividade nas drogarias não é um acaso. É o resultado de um sistema que nos vê como números, como peças de uma engrenagem que pode ser trocada a qualquer momento com o mínimo de prejuízo – para eles, é claro.

A culpa é nossa ou do sistema?

Aí vem a parte polêmica. Há uma corrente que diz que a valorização começa em nós. Que precisamos nos impor, parar com a “autodepreciação”, assumir o protagonismo. E há uma boa dose de verdade nisso. Se não ocuparmos nosso espaço, ninguém o fará por nós.

Mas é justo jogar toda a responsabilidade nas costas do profissional que já está sobrecarregado, mal remunerado e psicologicamente no limite? Como “ser protagonista” quando seu empregador te mede por metas de vendas de produtos que não têm nada a ver com saúde? Como ser um agente clínico quando a fila no caixa dobra a esquina e você é o único farmacêutico para dar conta de tudo?

Não podemos ser ingênuos. Existe um sistema – comercial, cultural e, por vezes, até dentro dos nossos conselhos – que se beneficia dessa nossa subjugação. Um farmacêutico que só “entrega caixinha” não questiona, não atrapalha as vendas, não cria “problemas”. Ele apenas cumpre a lei.

Uma reflexão para levar para o travesseiro (depois do turno)

Este texto não tem a pretensão de oferecer uma solução mágica. Ele é um espelho. A ideia é que você, farmacêutico, se veja nele e perceba que não está sozinho nessa angústia.

A desvalorização é real, palpável e dolorosa. Ela está na diferença de tratamento, no salário que não condiz com a responsabilidade, na exaustão física e mental.

Mas a pergunta que fica é: até quando vamos aceitar esse papel?

Será que a mudança virá de uma revolução individual, com cada um de nós se recusando a ser “só o moço da farmácia”? Ou precisamos de uma união real e barulhenta da classe para forçar o sistema a nos enxergar? Estamos dispostos a comprar essa briga?

A conversa está aberta. O que você pensa sobre isso? Deixe sua opinião nos comentários. Vamos usar este espaço para, pelo menos, compartilhar o peso do nosso jaleco.

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Respostas de 3

  1. Excelente reflexão sobre os desafios diários do farmacêutico!
    Parabéns pelo texto, precisamos mudar esta realidade…

  2. Verdade, é uma Escravidão Velada e o Farmacêutico no limite!

    É revoltante que entrevistas de emprego para farmacêuticos apresentem exigências como trabalho noturno integral, sem custeio de transporte (obrigando o uso de aplicativo por segurança) e jornadas aos finais de semana. Isso é um desrespeito à vida familiar e pessoal, e um custo adicional inaceitável para o profissional.

    Não há preocupação com a saúde de quem cuida da saúde alheia. É inaceitável que farmácias 24h, com alto faturamento, não ofereçam condições dignas. O salário do farmacêutico deve ser compatível com a responsabilidade e o faturamento do estabelecimento, não menos que isso. Onde estão as estratégias de RH para evitar essa “escravidão moderna”?

    É fundamental que os farmacêuticos, as associações de classe e os órgãos reguladores levantem essa bandeira e lutem por condições de trabalho justas e humanas. A valorização desses profissionais é crucial para a saúde pública e para garantir que quem cuida dos outros também seja cuidado.

  3. O pior é que as farmácias só contratam o profissional farmacêutico porque são obrigadas. Tenho que ouvir que com meu salário, que ñ é o piso, contrataria um balconista para trabalhar mais horas. Estudo praticamente todos os dias, tenho ciência que faço meu trabalho com excelência inclusive desempenhando funções destintas. Me sinto descartável, a primeira opçāo em caso de corte já que o proprietário é farmacêutico e joga na minha cara que mesmo trabalhando em outro lugar pode assinar o dia todo como responsável pela farmácia.

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O Autor

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